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A EXPERIÊNCIA POLÍTICA DO PVNC

Jobson Lopes

 

Nesses quase nove anos de história o PVNC, por não seguir nenhum referencial político tradicional, acabou abraçando o quilombismo como prática política. Por quilombismo se entende como a continuidade da dinâmica dos mocambos nas instituições negras posteriores, escolas de samba, favelas, irmandades religiosas e outras. Podemos até afirmar, seguindo essa lógica,  que o quilombismo é um processo civilizatório centrado no negro que as elites combatem através do racismo.  O racismo, ao contrário do que muitos dizem, não é apenas um “efeito colateral” da escravidão.  Muito mais que uma “ressaca social” o racismo é um dispositivo de controle do imaginário. Um entrave para a criatividade radical das massas.

 

A discussão racial nas aulas de Cultura e Cidadania ativou o lado negro adormecido por anos de massacre racista e durante os primeiros anos de vida do pré, novos laços foram criados.  Núcleos eram criados, acabavam e ressurgiam “do nada”. Os Conselhos e as Assembléias surgiram como espaços de deliberação e a carta de princípios como a ratificação das bases de uma nova forma de organizar as pessoas.  Um processo criativo que por sua vez não vem do nada, mas surge do eco dos tambores.

Entretanto, a postura dos auto-proclamados “intelectuais do pré” -transferindo atritos de outros movimentos para dentro do PVNC -  quase estragou tudo. Além de não contribuir para a construção de um pensamento próprio essa postura ainda alimentou a  péssima, idéia de que a produção teórica é desnecessária, coisa para quem quer “aparecer.

 

Felizmente essa fase está superada, porém o PVNC vive um novo impasse.  Sem as criticadas disputas — que, por outro lado, lotavam as assembléias — o pré simplesmente não sabe o que fazer.  Finalmente chegou a hora de intervir externamente,  fazer política lá fora,  mostrar o que o pré tem.

 

Sair dessa perigosa encruzilhada é assumir a nossa responsabilidade histórica e apresentar o PVNC como um exemplo de alternativa política diretamente ligada à tradição de resistência do povo negro.  Uma nova forma de fazer política,  uma política negra, a única forma de reinventar o Brasil.