O líder religioso, o político, o juiz, o procurador, o advogado, o policial, o segurança de shopping center, a torcedora, o jornalista, a apresentadora de telejornal, o gerente e o vendedor de loja, a diretora de escola, os professores, o pai, a mãe e outras pessoas que praticam racismo podem ser denunciadas, processadas, condenadas e presas. É o que diz a Lei Federal 7716/1989, a chamada Lei Caó, ao estabelecer a discriminação racial como crime inafiançável.
Porém, há no contexto do racismo que vemos todos os dias se expressar de alguma forma um elemento aí muito importante. Leis, como a 7716, a 10.639 (educação das relações étnico-raciais) e a 12.288 (estatuto da igualdade racial) são conquistas importantes da luta contra o racismo, mas não funcionam automaticamente e, além disso, não contam com investimentos adequados e concretos por parte Estado, que ainda não trata a questão como um dos desafios mais importantes a serem vencidos em nossa sociedade.
Ao meu ver, parece importante, como sociedade, praticarmos um porvir sem racismo, como opção ética desde já. O que hoje os cinegrafistas do cotidiano filmam com seus celulares e exibem todos os dias nas redes virtuais mostra que o racismo sobrevive em nossas instituições e através de nós. Nossa mobilização contra o racismo deve ser, de fato, tolerância zero em todos os aspectos, mas uma parte fundamental dessa luta é pensarmos e tentarmos produzir formas de estabelecer processos (re)educativos mais gerais que possam promover as mudanças culturais necessárias para uma sociedade sem racismo. São chaves nesses possíveis processos, as mídias de massa, as religiões e as escolas, muito mais que a polícia e o judiciário conduzidos pelo pior tipo de discriminação racial e social, a que pune e mata uma pessoa por ser negra e/ou pobre.